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ZÉ DAS TROVAS

( Brasil – Mato Grosso )

 

Nordestino legítimo. Sessenta e um anos nas costas [em 1983].
Morava em Porto Alegre do Norte, MT, durante mais de vinte anos,
na labuta brava da roça.

 

POETAS DO ARAGUAIA. Prefácio de Carlos Rodrigues Brandão.  Rio de Janeiro: CEDI,  1983.  132 p.  ilus              Ex. bibl. Antonio Miranda

 

ESTÓRIA DAS FAZENDA DO AMAZONAS

Eu quero que o Senhor
Faça uma análise direito,
Que fazenda em outro lugar
Era de serviço feito.
Mas aqui é um colosso,
No Estado de Mato Grosso
O nome é: MEUS DIREITO.

A floresta queima toda
E não se importa que torre.
Queria que o governo reparasse
OP que ocorre e passa:
Os bezerros que nasce
Não paga o gado que morre.

Riqueza amaldiçoada
Tem contato com o CÃO
Serve para derrubar a mata
E diferençá o chão,
O que acontece primeiro,
Para não dar o dinheiro
Manda matar o peão.

O tubarão tá querendo
É terra pra revender.
Eles quer fazer comércio
Não planta nem para comer.
Eu quero avisar
Para todo mundo olhar
Que é para conhecer.

Eu não sei quem tá direito
E nem sei qual é os que erra,
Mas por causa do AMAZONAS
Tá perigoso haver guerra.
Não vou fazer confusão,
Mas acho que os tubarão
Tem culpa na dívida externa.

Os chefes querem vender o AMAZONAS
E para pegar os bilhões
Dizendo que este empréstimo
É para o bem da nação.
Mas eu estou desconfiado
Que quem sai beneficiado
É General e Capitão.

Os poderosos querem comprar o Amazonas
Pra suas riquezas aumentar mais,
Porque o preço do custo
Vai ficando para trás,
Porque o dobro e o redobro
Tiram só nos minerais.

Os responsáveis da venda
Parece que estão malucos!
Porque fazenda do estrangeiro
Não vai dar nenhum produto
Porque só estão fazendo cerca
E cerca nunca deu fruto.

No Mato Grosso do Norte
Existe necessidade.
As fazendas dos Latifúndios
Não existe prosperidade.
Quem duvidar pode olhar
Para ver se é verdade.

As fazendas dos tubarão
Nenhuma delas não presta.
Eles não planta nada.
Só estão queimando a floresta.
Quem quiser saber o certo,
Venha olhar de perto
Que a história é certa.

O gado está acabando
Morrendo e ficando brabo.
Põe dois ou três empregado
Para zelar cinquenta mil gado
Depois o que acontece,
O gado que adoece
Vai morrendo abandonado.

Os tubarão quer ser verdadeiro,
Porém as fazendas deles
São ricas de pistoleiro.
Eles tem mau coração.
Já mataram peão
Para não pagar o dinheiro.

Na fazenda PIRAGUASSU
Tem o senhor TUCURI
Querendo cercar a vila de Porto Alegre
Para os morador sair,
Dizendo que tem dinheiro
E pode pagar pistoleiro
Para o povo não resistir.

Ele, TUCURI, já mandou
Queimar a casa da velhinha.
A velha não tem marido,
De certo mora sozinha.
Aí fizeram o enguiço,
Saiu o serviço,
Queimaram até a farinha.

O que ele queimou avalia
Em trinta mil cruzeiros,
Feito por Tucuri
Com os seus pistoleiros.
Fizeram coisa de fama
Queimaram a casa e a cama,
Queimou até o dinheiro.

O TUCURI já andou
Lá valente como um Leão,
Cercado de pistoleiros
Armados de "trinta e oito"
E bala no cinturão,
Dizendo que tem dinheiro
Para gastar na questão.

Não estou contando mentira
Porque essa história é verdadeira.
Pois o nome dessa dona
É Veronilha Pereira.
O pistoleiro de mau coração
Incendiou o barração
E depois saiu na carreira.

Na sede da fazenda,
Quando o fiscal chegou,
O Tucuri disse que falta gado,
Foi posseiro que roubou.
O gado que o povo comeu
Foi ele mesmo que vendeu
E o açogueiro matou.

Os tubarão de Mato Grosso,
Precisa se ver o jeito,
Querem se dono da terra,
Porém não têm nada feito,
Isso é certeza de fato
Em todo lugar do mato
Eles dizem: AQUI É MEUS DIREITO.

 

 

*

      

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Página publicada em outubro de 2022


 

 


 

 

 
 
 
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